nem tudo deve ser "zueira"
- Nathalia Olejnik
- 18 de set. de 2018
- 3 min de leitura
Posso ser taxada de chata, sem humor ou "politicamente correta", mas eu não admito brincadeiras que ultrapassam o limite do respeito. Pra mim, tudo o que é ofensivo e que pode machucar de alguma maneira a outrem, NUNCA deve ser dito. Por mais verdade ou brincadeira que possa ser, eu sempre tento ter empatia para com o meu próximo. Não é questão de ser correta demais ou até mesmo pelo fato de ser cristã, mas tem ligação com o que eu já vivi.
Em grande parte da minha vida eu já sofri bullying seja porque nunca fui magra, seja porque sou mestiça, seja pelo meu estilo. Sei que não sou exceção e que, de alguma maneira, todos passaram por situações assim na vida, mas isso não torna o bullying algo normal de ser vivido. Não podemos simplesmente ignorar o bullying porque sempre existiu. Não podemos ignorar algo que machuca e transforma tantas pessoas.
O caso mais recente de bullying que passei foi no meu último emprego onde um senhor que tinha dependência alcoólica, num momento de descontrole, começou a me chamar de "peppa pig" e rir enfaticamente. Claro que aquilo me marcou e que doeu, claro que eu poderia ter ido ao superior e relatado o que havia acabado de acontecer, claro que eu poderia tê-lo respondido na hora, claro que eu poderia ter feito muitas coisas, mas a única coisa que eu fiz e que eu não me arrependo foi de ter orado por ele mesmo que tudo aquilo estivesse me machucando demais. Não sei o meu ato lhe ajudou, mas, para mim, foi libertador. O consolo que Jesus me deu reafirmando tudo aquilo que realmente sou foi maravilhoso e, talvez, seja assunto para um outro post.
O bullying não é brincadeira, é um fato. Segundo a UNICEF, o Brasil é o quarto país com maior prática de bullying no mundo. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, um em cada dez estudantes é vítima frequente de bullying. Segundo a ONU, metade das crianças e jovens no mundo já sofreram bullying. Pesquisa da USP de Ribeirão aponta que 20% dos alunos já praticaram bullying contra colegas.
Todos os dias diferentes formas de bullying acontecem e podem destruir pessoas. Uns conseguem levar numa boa, conseguem levar na brincadeira. Já outros, tem suas vidas completamente mudadas, mudam de comportamento e se retraem. Já vi pessoas que se sentem tão inferiores, tão menos merecedoras de uma vida digna porque ouviram muitas coisas ruins. Já vi pessoas que tiveram casos de depressão por causa do bullying, e em alguns casos extremos, até mesmo de suicídio.
Hipócrita eu seria se dissesse que nunca pratiquei o bullying contra outra pessoa, que nunca fui a agressora, mas a partir do momento que eu resolvi as coisas comigo mesma, passei a não fazer mais isso. Sabe por quê? Porque muita das vezes os agressores só agem assim para se sentir melhor às custas de alguém. Os problemas reais são com os agressores, não com os atingidos.
Se você ainda está aqui lendo, eu peço encarecidamente, cuidado. Cuidado com as "brincadeirinhas", cuidado com o jeito que você fala, cuidado com os apelidos... Não sabemos o que cada um passa em seu particular, o que se passa interiormente. Ninguém deve ser taxado por sua aparência física, a sua etnia ou pelos seus trejeitos. Ninguém deve ser "zuado" por ser mais magrinho ou mais gordinho, por ser ruiva ou loira, por ser baixo ou alto, por usar roupas assim ou assado, por ter uma condição inferior ou superior... O que realmente importa é o que somos interiormente.
Não apelide pessoas a menos que você a conheça tão bem que sabe qual o efeito que isso irá causar. Não rotule pessoas por um pré-julgamento. Não discrimine pessoas por sua condição. Tenha amor, seja empático, se coloque no lugar do outro e faça com que pequenas ações suas transforme o mundo, nem que seja de gota em gota.
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